Celebração pela vitória dos artistas independentes LGBTQIAP+

ARTISTAS

A jornada dos artistas independentes é uma estrada longa e sinuosa, repleta de desafios aparentemente intransponíveis. Para aqueles que vêm de famílias proletárias, e que não têm um vasto catálogo de contatos influentes, a vida pode ser árdua. A cada passo, a batalha para ser ouvido, visto e respeitado parece mais difícil. No entanto, hoje eu quero me concentrar não nas frustrações ou nos obstáculos, mas na sensação imensamente gratificante de realização que acompanha o sucesso merecido, mesmo que tardio.

Este fim de semana, tive a alegria de assistir a um espetáculo que trouxe para o palco artistas que eu admiro profundamente. No Sesc Jundiaí, Felina, Titacy e Bixarte, com colaboração de Furacão Alice e Alexa Brasil se apresentaram com uma energia vibrante e cativante. Felina, a dupla Titacy, Furacão Alice e Alexa Brasil são da região, enquanto Bixarte, uma talentosa cantora nordestina e atriz da Globo, elevou o nível do show com sua importante presença. Desde o início, foi uma experiência cheia de significados, pois ver minhas amigas e colegas de trabalho sendo reconhecidas por uma artista tão renomada foi um momento que me trouxe orgulho imediato.

O que mais me impactou foi a estrutura e o profissionalismo do evento. Aqueles que, como eu, acompanharam a trajetória dessas artistas, sabem o quanto elas lutaram para chegar aonde estão. Ver uma iluminação sofisticada, uma equipe de backstage competente, figurinos elaborados e um som cristalino, foi uma verdadeira celebração de talento e perseverança. Eu, que tantas vezes as vi em palcos modestos, com cachês beirando o simbólico e enfrentando inúmeras adversidades para continuar fazendo arte, não pude conter a emoção ao testemunhar o reconhecimento que elas merecem.

Este show, com uma equipe composta em 90% por pessoas trans, representou um marco significativo para Jundiaí. Foi mais do que uma apresentação musical; foi uma declaração de inclusão, orgulho e coragem. Naquele palco, elas permitiram que toda a comunidade artística independente, assim como a comunidade LGBTQIAP+, vislumbrasse um futuro mais justo e possível. Foi um convite para sonhar com oportunidades que muitas vezes nos são negadas. Vivemos em uma cidade onde, por décadas, tentaram (e ainda tentam) nos silenciar e apagar nossa presença por meio de maldizeres, censuras e até mesmo moções de repúdio. Ver artistas tão talentosas sendo reconhecidas e aplaudidas em um palco respeitável é um passo significativo contra a marginalização e a invisibilidade de toda nossa comunidade.

As sensações que senti durante o show foram indescritíveis. Chorei, e não apenas por estar assistindo a uma performance incrível, mas porque finalmente tive a chance de ver artistas como elas em um ambiente que se equiparava ao talento delas. Acomodada em uma cadeira confortável, com ar-condicionado soprando em meu rosto, assistindo a um espetáculo em um palco limpo e bem equipado, eu me emocionei com a realização do sonho delas. Ver o trabalho árduo ser recompensado, ver as portas finalmente se abrirem para artistas que tantas vezes foram ignoradas, é algo que reaviva a esperança e reacende o propósito.

Trabalhar com arte é uma escolha que exige audácia e determinação, especialmente para aqueles que precisam conciliar essa paixão com empregos diurnos para pagar as contas. Deixar um legado artístico regional pode parecer uma meta distante quando a cidade onde você mora quase nunca oferece as oportunidades que você tanto merece. Felina, Titacy e sua equipe me lembraram do porquê de continuarmos lutando. Porque cada passo em direção ao reconhecimento, cada pequeno sucesso, nos dá esperança para um mundo onde as portas estejam abertas para todos, independentemente de sua origem, identidade ou orientação.

OUTROS ARTIGOS DE ANNA CLARA BUENO

MULHER TRANS TEM ALVO NAS COSTAS

A UTOPIA DE ARIEL CAÊ

REPENSANDO O DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES

JULIANA EVA EXPÕE ENTRANHAS PARA CELEBRAR O CORPO EM FESTEJO

O que essas artistas mostraram é que a perseverança vale a pena e que, mesmo em um ambiente hostil, é possível criar espaços seguros e inclusivos para a arte e a cultura. Elas me deram uma razão para acreditar que a mudança, mesmo que lenta, pode acontecer e que um mundo de chances está ao nosso alcance, se continuarmos a lutar por ele e apoiarmos quem mais estiver nessa trajetória conosco. Afinal, um sonho sonhado por um indivíduo não passa de um sonho, mas um sonho sonhado por um coletivo é uma meta. (Fotos: Ana Laura/@aninhax._ – Montagem: Anna Clara Bueno)

ANNA CLARA BUENO

De nome artístico Anubis Blackwood, é drag queen, artista performática e visual, professora de inglês, palestrante e produtora cultural. É membro do coletivo Tô de Drag, o primeiro de arte drag de Jundiaí e região. Colabora com o ‘Grafia Drag’, da UFRGS. Produz o festival Drag Vibes em colaboração com o coletivo, para democratizar a arte drag, mostrar sua versatilidade e levá-la a espaços e públicos novos por meio de performances plurais e muito diálogo.

VEJA TAMBÉM

PUBLICIDADE LEGAL É NO JUNDIAÍ AGORA

ACESSE O FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES