MARIA CABORÉ

maria caboré

Quem me trouxe a história de Maria Caboré – Cícera Maria da Silva Almeida – foi meu querido teólogo Ismael Félix que é muito de Deus e do povo. Com ele aprendo bastante também sobre Padre Cícero de Juazeiro do Norte.

Maria Caboré era cearense, da cidade de Crato, uma mulher negra, marginalizada, “escrava” dos endinheirados e que acabou enlouquecendo, assim como endoidecem diversos excluídos, empurrados para as sarjetas. Sou testemunha dessa realidade triste de algumas delas e alguns deles.

De acordo com matéria do “Diário do Nordeste”, era ela filha de Caboré, coveiro, e Calumbi, roceira, moradores do distrito Matinha. Morreram cedo e ela passou a perambular na terra do Padre Cícero.

Na Rua da Vala, hoje Tristão Gonçalves, onde mais circulava, supria as casas com água, retirava o lixo, servia de recadeira e, em troca, ganhava um prato de comida, roupas usadas e alguns trocados. Era ética, leal, honesta e de boa índole.

Frequentava a Igreja e confessava-se. No mundo ilusório era noiva do “Rei do Congo”. Faleceu vítima da peste bubônica que, em 1936, afligiu a cidade.

Para muitos cratenses e, até, nascidos em outras localidades, é considerada um espírito milagreiro. Seu túmulo no Cemitério Nossa Senhora da Piedade possui frequente visitação durante o ano e em destaque no Dia de Finados.

Padre Raimundo Augusto, na morte de Maria, escreveu na revista Itaytera:

MARIA CABORÉ

Espírito de anjo ornado em trapos,

Perambulando pela rua, ao léu,

Companheira fiel até dos sapos,

Ela tinha por lar o azul do céu.

Simples, sincera e boa como ninguém,

Nos lares penetrava com respeito

E confiança, e o troco de um vintém

Ao dono devolvia sem defeito.

Era melhor que muita gente boa,

Sem fingimento algum ou hipocrisia,

Mesmo levando a vida assim à toa.

Foi bela a sua morte e edificante.

O azul do céu que aqui a protegia,

É lá no além, o seu trono de brilhante.

O texto que meu amigo Ismael me enviou é de Ronaldo Correia de Brito e começa assim: “Maria Caboré vivia de pilar arroz, a um vintém cada cinco litros, e de outros trabalhos que a vida a obrigara a aprender. Carregava água para encher os potes das casas, lavava roupa, fazia mudanças, cozinhava. Desde menina conhecera a dureza de uma lida sem descanso.

Não tinha casa e não se lembrava de ter possuído. Um dia almoçava aqui, outro dia jantava acolá. Pagava com seu trabalho, feito com disposição.(…)

Um dia sentiu-se cansada, o corpo mole, não teve disposição para terminar de lavar a roupa de dona Aninha Vilar. À noite teve febre e delirou. (…)

No dia seguinte, a cidade inteira procurava por ela, mas ninguém a encontrava. Havia muita roupa para lavar, muitas casas por varrer e Maria não aparecia…” Vale a pena saber mais clicando aqui.

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Li o texto em reunião com integrantes da Pastoral da Mulher/Magdala. Ao final, uma delas com olhos lacrimosos afirmou: “Eu sou Maria Caboré”. Disse que igualmente era, mais uma, mais duas, mais três. Que doloroso! Mulheres que se sentem vestidas de trapos.(Foto: blogdocrato.blogspot.com/Artigo originalmente publicado em fevereiro de 2022)

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de risco.

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