No início dos anos 1980, fiz uma palestra para professores das séries iniciais do Ensino Fundamental sobre matemática moderna, então muito comentada e que se tratava de um recurso metodológico para estimular as construções lógicas no ensino da disciplina. Nem era uma novidade de fato, mais uma releitura. Sempre preocupado com a interatividade,nossa conversa fluía quando ousei afirmar que ensinar as operações aritméticas e a tabuada era perda de tempo, pois as calculadoras fariam esta tarefa com mais rapidez e precisão. Foi como jogar um palito de fósforo aceso no galpão de fogos de artifício.
Meus argumentos sobre a matemática moderna geraram polêmica. Ouvi de tudo, desde o preço das calculadoras, então muito caras, até como proceder quando não tivermos uma calculadora. De pouco serviram minhas explicações de que muito em breve haveria profusão de calculadoras que seriam, até, oferecidas como brinde. Descrédito e desconfiança. Justifiquei minha afirmação que aquelas operações só envolviam memória e não raciocínio, por isto as máquinas conseguiam fazer. Assim, não haveria perda alguma para o raciocínio lógico, pelo contrário, economizaríamos memória. Não convenci ninguém. A explicação simples e óbvia bateu de frente com o senso comum. E no ensino da matemática, muitas escolas continuam, até hoje, torturando as crianças obrigadas a decorar a tabuada.
Computadores não pensam. A Inteligência Artificial, que promete revolucionar toda a tecnologia que temos hoje, talvez o faça. Mas, por enquanto, mesmo os supercomputadores são apenas dispositivos com grande capacidade de memória e rapidíssimo processamento. Todos os méritos de suas “façanhas” se devem aos arquitetos e programadores que os desenvolveram. Estes sim capazes de raciocinar.
Na época da palestra sobre a matemática moderna e até hoje continuo atento à realidade para tentar antecipar o que está por vir. Não como futurólogo, muito menos como visionário. Apenas observo o conjunto de evidências disponíveis em qualquer forma de mídia.Deste modo é possível identificar para onde a tecnologia está nos levando. Evidentemente todos os que tiverem seus negócios descontinuados resistirão e apresentarão inúmeros exemplos para justificarem suas existências. Por algum tempo, pois a inexorabilidade das mudanças os alcançará. Neste mar de incertezas, esta, talvez, seja a única coisa certa: as mudanças continuarão a ocorrer, cada vez mais rapidamente.
Atuando por muitos anos na Educação Profissional e acompanhando os indicadores da crescente inclusão de técnicos e tecnólogos nas novas profissões da década que se iniciará em 2021, mais uma vez ousarei afirmar que a melhor formação para nossos jovens, hoje na Educação Básica, não é a preparatória para o vestibular como acredita o senso comum.
As exigências no futuro estarão muito mais ligadas às competências, habilidades e atitudes do que ao conjunto de informações armazenadas. Não haverá interesse pelo que se sabe, mas pelo que se sabe fazer. Há, dentre os itinerários formativos do Ensino Médio, opções de cursos profissionalizantes, cada vez mais valorizados pelos jovens, suas famílias e pelas empresas, que oferecem este tipo de formação estimulando a criatividade e o empreendedorismo.
As mudanças começam dentro de cada um de nós, revendo conceitos, referenciais e, sobretudo, certezas. Estas novas propostas de formação impactando as carreiras profissionais é um fenômeno global e a valorização das competências em detrimento do armazenamento de informações uma realidade no mundo produtivo.
Pesquisas recentes, divulgadas pelo Fórum Econômico Mundial, indicam um conjunto de profissões para as quais haverá forte demanda de empregos, entretanto, na direção oposta, em um artigo do jornal O Estado de São Paulo são apresentados dados da OCDE que apontam uma concentração de jovens concluintes do Ensino Médio seguindo carreiras clássicas da educação brasileira de ensino superior, algumas delas com fortes indícios de descontinuidade ou automatização. Como explicar que jovens tecnologicamente diferenciados optem por carreiras em extinção e não por carreiras promissoras. Talvez a resistência em continuar ensinando tabuada, ou línguas, diante da tecnologia que determina a obsolescência desses “conteúdos”, justifique esse descompasso.
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O senso comum e os preconceitos, que estimulam a continuidade de crenças baseadas no passado, são os fatores negativos que nos condenam a repetir modelos que desprezam todos os indicadores de mudanças observáveis em nossa realidade. Cabe a cada um de nós, educadores, a difícil tarefa de deixar o conforto da mesmice e a repetição inconsequente de conteúdos abraçando uma nova postura metodológica, interativa e mediadora que, inclusive, será a única forma de preservar as funções de um docente, facilitando a aprendizagem e indicando os novos caminhos. (Foto: www.conclusion.com.ar)
FERNANDO LEME DO PRADO
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