OPORTUNISMO

oportunismo

Dentre todas as coisas que se observa nesta tragédia de proporções bíblicas que enfrentam os gaúchos, com tantos exemplos de solidariedade e compaixão pelas desventuras alheias, chama a atenção o oportunismo de todos os tipos que nos fazem questionar a humanidade de tantas pessoas. Do dono de posto que aumenta o preço dos combustíveis para aproveitar a escassez e o incremento da demanda às críticas de caráter essencialmente político buscando auto promoção ou tentando distribuir culpas sobre um evento climático gigantesco. Não vamos incluir aqui, evidentemente, aqueles que se aproveitam do caos para roubar. Estamos nos referindo aos cidadãos supostamente “de bem” que mesmo diante das desgraças das mais diversas ordens usam as circunstâncias para se beneficiarem de algum modo.

Se era possível ter antecipado, de alguma forma, os efeitos do desastre e propor um conjunto de ações para impedir ou mitigar a catástrofe que se anunciava isto, inquestionavelmente, recai sobre aqueles que têm a responsabilidade de agir diante das perspectivas e avisos de risco, mesmo diante do ceticismo que normalmente se observa em relação ao anuncio de mudanças no meio ambiente. Talvez precisássemos de quem seguisse a “teoria do décimo homem” que prevê: “em um grupo de estudos com 10 pessoas, qualquer que seja o problema, se nove concordarem com uma solução o décimo deve obrigatoriamente discordar e tomar todas as providências necessárias para enfrentar o problema se a sua posição vier a se realizar”.

A credibilidade das autoridades não ajuda nestes casos, nem em relação às calamidades que estão por vir nem as ações quando elas chegam. Por exemplo, chamou a atenção os insistentes pedidos para que as pessoas deixassem suas casas pois a elevação das águas era iminente sem que houvesse participação dos munícipes até que a água levou tudo.  Do mesmo modo as informações e desinformações continuam a circular sem que se saiba exatamente o que fazer dos abrigos às distribuições de donativos. Há relatos de incontáveis situações mesmo quando consideramos o caos reinante.

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Infelizmente neste processo se verificou a necessidade, pasmem, de identificar o que era verdadeiro e o que era falso nos noticiários diante de tanto oportunismo não se sabe em benefício de quem. Se dos arautos do apocalipse que fazem sempre os piores prognósticos deixando a todos inseguros ou dos imobilistas que não querem mudanças por nenhum motivo. Até no futebol apareceram manifestações pouco colaborativas do tipo cortesia com o chapéu alheio, mas a imprensa sensacionalista para a qual más notícias são boas notícias foi quem mais se aproveitou com repórteres in loco e especiais alarmistas. Tudo, evidentemente, a serviço da informação.

De concreto a dor e as desventuras dos milhares de gaúchos, a verdadeira solidariedade presente nos inúmeros e incansáveis voluntários e abnegados e no número infindável de carretas com doações. O resto é só oportunismo.(Foto: Prefeitura de Canoas/Agência Brasil)

FERNANDO LEME DO PRADO

É educador

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