Se tem um bichinho que é um encanto é o vagalume! Se estivermos perto de matas, ao anoitecer e de repente virmos um piscar de “olhinhos” espertos esverdeados, já exclamamos: “Olha o vagalume!!”. Hoje falaremos um pouco sobre deste fascinante inseto, das pesquisas cientificas promissoras sobre ele e de sua simbologia, especialmente no Japão.

A química que está por trás deste fenômeno, chamado bioluminescência, é ainda mais fascinante: variações de ph, temperatura e presença de metais pesados, tais como o chumbo, arsênio, mercúrio, alteram a cor dessa luz, que pode ir do verde ao vermelho. Na família dos vagalumes mais comuns, os lampirídeos, a cor verde emitida de forma intermitente, normalmente ao entardecer, é substituída pela alaranjada ou vermelha, quando se está à beira da morte.

Grupo de pesquisa na UFSCar (Sorocaba/SP), liderada pelo bioquímico Vadim Viviani está à frente desses e de outros resultados impressionantes, abrangendo as famílias dos elaterídeos e dos fengodídeos. A figura 1 traz as imagens dos três, especialmente do vagalume tecetc com seus “olhos” acesos abaixo da cabeça (protórax). Porque tectec? Ora, esse é o “estalo” que ele dá em sinal de defesa, pulando! Mas é inofensivo: gosta mesmo é de voar bem alto, acima da copa das árvores!

Infelizmente os vagalumes não são vistos com frequência, podendo até mesmo fazer parte apenas da infância de muitos adultos. Isso devido ao desmatamento predatório, no qual se passa o “correntão” e a moto serra a fim de deixar “terra arrasada” para pasto sem manejo e empreendimentos imobiliários. Assim, não dá tempo da floresta se regenerar, e nem tampouco dos vagalumes se reproduzirem e viverem seu ciclo de vida. Ah, tem também quem os aprisione em vidros, só para ver e ter. Ver de forma tão egoísta é por pouco tempo: pois aprisionados duram pouquinho, apagando-se também com sua luz.

Com a ciência, a conversa é outra! Ecologia, bioquímica, evolução, campo e laboratório: as investigações do grupo são bem promissoras, cujos resultados têm sido publicados internacionalmente, motivando alunos e suas teses, que seguem pesquisando agora rumo à região Norte do Brasil, onde as manifestações bioluminescentes desses pirilampos mostram-se ser diferentes dos daqui da Mata Atlântica, e ímpares, em termos mundiais.

Além de conhecer melhor os mecanismos da luz nesses insetos, os novos métodos em teste mostram o seu emprego na detecção de alterações de pH e de metais dentro das células, o que poderia permitir por exemplo testes de toxicidade de agentes farmacêuticos e cosméticos em cultura de células, acompanhando o avanço de infecções ou a proliferação de células metastáticas(cancerosas), de forma a auxiliar a indústria farmacêutica na avaliação de drogas, com o uso reduzido de cobaias nos experimentos. Não é o máximo?

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Além disso, para que esses e mais resultados possam chegar ao grande público, professor Viviani instalou um pequeno espaço, mas de grandes idéias – o Museu de Bioluminescência – para visitação pública. Ao final, para quem quer saber mais sobre como funciona, e a matéria completa da pesquisa, há um link para acessar a Revista Fapesp de dezembro de 2018.

Os vagalumes também trazem simbologia, cultuada especialmente pelos japoneses, do efêmero e do belo que escapam aos olhos do homem. Naquele país milhares desses insetos vivem em verdadeiros refúgios florestais, gerando cenários belíssimos na sua temporada, entre os meses de maio e junho, como o da foto de abertura deste artigo .

Não é à toa que “O Túmulo dos Vagalumes”, de 1988, dirigido por Isao Takahaka, é um dos mais famosos anime dos estúdios Gimbli, mundialmente conhecido pelo seu mestre Hayao Miyazaki (Meu Vizinho Totoro, A Viagem de Chihiro). É um filme baseado no livro semi autobiográfico, de mesmo título, de Akiuki Nosaka e conta a história ambientada na 2ª Guerra Mundial onde os irmãos Setsuko e Seita lutam sós pela sobrevivência em meio a terríveis adversidades, fome e doenças.

Filme belíssimo e sensível, seus cartazes de divulgação trazem detalhes que enriquecem seu conteúdo dramático, mostrados na imagem acima. Os do meio e da direita (2 e 3) retratam, em um, a sombra dos caças durante o ataque e em outro, em meio às luzes redondas dos pirilampos, outras luzes em formado de gotas arremessadas, de cor laranja, mais avermelhada, anunciando poeticamente o ocaso, dos vagalumes e dos sobreviventes. Foto principal: https://bit.ly/2CMHVix


 

ELIANA CORRÊA AGUIRRE DE MATTOS

Engenheira agrônoma e advogada, com mestrado e doutorado na área de análise ambiental e dinâmica territorial (IG – UNICAMP). Atuou na coordenação de curso superior de Gestão Ambiental, consultoria e certificação em Sistemas de Gestão da qualidade, ambiental e em normas de produção orgânica agrícola.


 Para saber mais:

Revista FAPESP: http://revistapesquisa.fapesp.br/2018/12/04/verde-amarelo-ou-vermelho/

Museu de Ciencia e Tecnogias da Bioluminescencia: https://biota-biolum.wixsite.com/museu-luminescencia