A cultura digital se tornou um dos pilares da sociedade contemporânea. A internet e as redes sociais moldam não apenas a maneira como nos comunicamos, mas também como nos percebemos e somos percebidos pelo outro. Em especial, os jovens encontram na esfera digital um espaço para a construção de identidade, influenciado por padrões estéticos e discursivos propagados por influenciadores digitais, comunidades virtuais e grupos online.
Dentro desse contexto, surge a figura dos “meninos de preto”, um fenômeno que pode ser compreendido a partir de diversas perspectivas. Os jovens, ao buscarem pertencimento, exploram estéticas e narrativas que encontram eco no mundo digital. A identidade, que antes se formava predominantemente na interação presencial, agora é amplamente influenciada pelas redes sociais.
A cultura digital oferece modelos de comportamento, referências estéticas e valores que podem ser adotados por diferentes grupos. No caso dos “meninos de preto”, há uma influência significativa de comunidades virtuais e influenciadores que propagam um estilo de vida ligado à melancolia, ao existencialismo e à rebeldia contra os padrões convencionais da sociedade. Essas características podem ser atraentes para jovens que se sentem deslocados ou que buscam um meio de expressão autêntico.
A internet proporciona um espaço no qual influenciadores digitais exercem um papel fundamental na formação da identidade dos jovens. Youtubers, streamers e criadores de conteúdo no TikTok e Instagram compartilham ideias, estilos e filosofias que podem impactar profundamente o público. O movimento dos “meninos de preto” se alimenta dessa dinâmica, pois determinados conteúdos reforçam estéticas góticas, discursos de apatia e desilusão com a realidade.
Além dos influenciadores, comunidades virtuais também desempenham um papel relevante. Grupos em fóruns, Discord, Reddit e outras plataformas digitais criam espaços de partilha e validação, onde esses jovens encontram apoio e reforço para suas visões de mundo. Isso pode ser positivo, ao criar conexões entre indivíduos que compartilham experiências semelhantes, mas também pode gerar enclaves de alienação e distanciamento da realidade concreta.
A relação entre cultura digital e saúde mental é complexa. Por um lado, o espaço virtual possibilita expressão e conexão. Por outro, pode aprofundar estados de isolamento e ansiedades decorrentes da comparação constante com outros usuários. O culto à tristeza e à introspecção excessiva pode levar a quadros de depressão e ansiedade.
Diante desse cenário, encontrar formas de reconexão com o mundo real se torna essencial para a promoção da saúde mental dos jovens. Atividades artísticas, esportivas e interações presenciais são caminhos para equilibrar a influência digital e fortalecer o bem-estar emocional.
Para contrabalançar o impacto do mundo digital, é necessário incentivar experiências concretas e sensoriais. Algumas abordagens incluem: as atividades artísticas, as práticas esportivas e as interações presenciais. A arte, em suas diversas manifestações, oferece um meio de expressão que não depende da aprovação digital. Pintura, música, teatro e literatura permitem que os jovens explorem sentimentos e criem algo significativo sem a intermediação das redes sociais.
O esporte é um excelente meio de promover interação presencial e fortalecer a saúde mental. Além dos benefícios físicos, atividades coletivas como futebol, basquete ou mesmo artes marciais ajudam no desenvolvimento da confiança e do senso de pertencimento. E, criar espaços para encontros presenciais é fundamental. Eventos culturais, clubes de leitura, rodas de conversa e até mesmo passeios ao ar livre são formas de estimular o contato real e desenvolver relações autênticas.
A cultura digital é um fenômeno irreversível e molda profundamente a identidade dos jovens. No entanto, é crucial buscar equilíbrio entre o mundo virtual e o real, evitando que a interação digital se torne um fator de isolamento e sofrimento. O acesso contínuo à internet e a presença constante nas redes sociais criam uma ilusão de conexão que, muitas vezes, não substitui o contato humano autêntico.
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A estética dos “meninos de preto”, ligada a influenciadores e comunidades online, revela como a juventude busca pertencimento e expressão em tempos de hiperdigitalização, frequentemente adotando padrões estéticos e comportamentais que reforçam sentimentos de distanciamento social e introspecção.
Contudo, ao incentivar experiências artísticas, esportivas e interações presenciais, é possível promover uma reconexão com o mundo real, fortalecendo a saúde mental e o bem-estar coletivo. O futuro está na capacidade de integrar o melhor do digital com as riquezas das experiências concretas, permitindo que as novas gerações usufruam da tecnologia sem abrir mão das relações humanas genuínas.(Foto: Pavel Danilyuk/Pexels)
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Leciona, ainda, na Faculdade de Psicologia UNIANCHIETA. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.
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