Os campeões de reclamações na Comunidade LOCAL GUIDES

LOCAL GUIDES

Terminais urbanos e rodoviários de ônibus no Brasil estão em segundo lugar nas classificações como “ruim” na Comunidade Local Guides, uma ferramenta que o Google Maps permite aos internautas avaliarem locais, sejam espaços públicos ou privados, órgãos públicos, comércio, indústria… enfim, tudo o que existe em nossas cidades. O internauta tem a liberdade de escrever sua impressão sobre o lugar, como foi atendido e também postar fotos. Os terminais rodoviários, que são os cartões de visita dos viajantes, são campeões em reclamações, revelando uma degradação progressiva no serviço destes terminais, principalmente depois que passamos a conviver com a pandemia. A limpeza piorou em muitas rodoviárias, serviços de atendimento comercial (bares, lanchonetes) e mesmo o atendimento à venda de passagens diminuíram, ou por haver menos funcionário ou restrições de horários, gerando longas esperas e filas.

Isto contrasta com ônibus portentosos, de última geração, dotados de ar-condicionado, calefação, serviço de bordo, wi-fi e muito mais… luxo sobre rodas encostando em rodoviárias, muitas vezes não tão velhas, mas totalmente degradadas, pichadas, sujas, cheias de odor, com baratas nos sanitários e no comércio local, vasos sanitários sem assento, torneiras que não funcionam, lâmpadas queimadas e, para arrematar, sem segurança alguma.

O cenário dos terminais urbanos e rodoviários Brasil afora é assustador. Não há pesquisa, estatística, mas o número é cada vez maior e nem precisa viajar para constatar in loco, basta tempo para pesquisar em sites, pelo Google Maps – Street View e o principal; ler as avaliações feitas pelos internautas que participam da comunidade do Google denominada Local Guides.

Importante deixar claro que boa parte da situação dos terminais é consequência da falta de educação. O vandalismo parte da população, de uma parcela do próprio povo. O vandalismo não se restringe às capitais e grandes cidades, é geral pelo país, se estende a pequenos e médios municípios. As origens disto são diversas: da desestrutura familiar, deficiência no ensino, falta de projetos culturais e educacionais consistentes da parte dos gestores, além da crise na segurança pública, que só aumentou nas duas últimas décadas. Some-se a isto a corrupção e a falta de projetos técnicos. Obras paralisadas há anos, por erros nos projetos ou desvio de verba são facilmente encontradas em vários municípios. Outras, em funcionamento há anos, já não comportam o fluxo de passageiros e o número de linhas. Mas as prefeituras não investem. Muitas vezes o local onde foi construída não permite ampliação, depende de custosas desapropriações, grandes interferências no sistema viário. Depois de passadas também a um gerenciamento privado através de concessão, cria-se um novo problema porque nem sempre é cumprido o que está no contrato e prefeituras não cobram para não criar clima de inimizade, já que o negócio de concessão sempre envolve troca de favores (inclusive políticos/eleitoreiros). Para a população, que reclama no Local Guides, fica nítido o célebre jogo de empurra.

Mais que terminais rodoviários, os terminais urbanos acabam também deixando explícito o eterno problema social do país. São nos terminais que camelôs e marreteiros tiram seu “ganha-pão”. Estão dentro ou nas redondezas dos terminais, onde se misturam aos mendigos e batedores de carteira. Nos terminais administrados pelos concessionários normalmente há vigias (quase sempre terceirizados), que mantêm ambulantes e mendigos à distância, tornando a redondeza do terminal problemática (agora o caso é com as prefeituras, que nada fazem). Nas concessões muita coisa é cobrada, os sanitários até pouco tempo atrás também eram. E o serviço não é excelência, com raras exceções. Quando é a prefeitura que administra, o serviço é pior. Não existe mais zeladoria como no passado e o executivo sempre “chia” em pagar funcionários para dar conta do serviço necessário, sobrecarregando os poucos. Fiscal de posturas também é cargo em extinção. Nestas rodoviárias administradas por prefeituras, pessoas em situação de rua passaram a fazer delas “suas moradias”, principalmente agora durante a pandemia. Em todas as viagens que fiz neste período, constatei a presença destas pessoas em situação de rua dentro dos terminais rodoviários de cidades de todo porte, das maiores às menores.

Outro ponto que leva as prefeituras ao descaso com terminais rodoviários e suburbanos é o fato de por eles passarem muitas pessoas de outros municípios, o que não gera voto como nos cuidados com terminais urbanos, onde algumas gestões fazem questão de fazer deles vitrine. O que não é simples, devido ao problema social já citado. Prefeituras preferem interferir nas empresas privadas com seu marketing (imagem nos ônibus) do que buscar resolver os problemas dos terminais para gerar mais conforto e informações aos usuários.

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E finalmente, em primeiro lugar em reclamações, estão os serviços de saúde. Postinhos, Unidades Básicas de Saúde e Pronto Atendimento e hospitais. A saúde, que é prioridade, continua sendo um desafio aos gestores. Na avaliação dos internautas na Comunidade Local Guides, as notas são baixas e apontam problemas diversos; limpeza, condições dos sanitários, condições das salas de espera, atendimento dos funcionários, atendimento telefônico (só é um pouco melhor se comparado ao atendimento telefônico nos terminais rodoviários, onde muitos internautas escreveram que “não atendem nunca”)… e o maior de todos os problemas aqui na área de saúde: a demora para a consulta. Não há profissionais em número suficiente para dar conta da demanda.

Curiosamente, parece que políticos, gestores não acompanham muito essas avaliações no Local Guide, ao contrário da população no geral. Seria importante acompanharem, pois é um canal de comunicação que tem muita visibilidade em todo o país, analisado principalmente por turistas, pessoas que tem pretensão de visitar a cidade. Em suma, extensa abrangência.(Foto: Rodoviária de Mococa, em São Paulo, alvo de muitas reclamações de usuários. A imagem, de minha autoria, é de 1999. O local continua nas mesmas condições).

GEORGE ANDRÉ SAVY

Técnico em Administração e Meio Ambiente, escritor, articulista e palestrante. Desenvolve atividades literárias e exposições sobre transporte coletivo, área que pesquisa desde o final da década de 70.

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