Existe uma reflexão popular afirmando que nos momentos que passamos por tribulações, dificuldades é que descobrimos quem são os verdadeiros amigos, quando estes se fazem presentes nos nossos momentos de dor. Porque quando estamos no mar de rosas, nossa casa está sempre cheia. Nestas últimas décadas, outra expressão popular veio se destacando cada vez mais. Aquela velha afirmação que os cachorros são os melhores amigos do homem. E de tão amigo, acabou tendo tantos holofotes que a sociedade teve, em seus aspectos positivos e negativos, de amor e de dor… e inclusive de questionamentos, intermináveis polêmicas. Uma delas, inclusive recente, acerca dos fogos com estampido, rojões. Quem diria que eles, os cães, estariam reforçando nossa causa, junto aos nossos idosos, acamados, autistas, que tardiamente se descobriu o quanto sofrem com o barulho excessivo desses artefatos?
Esta integração cada vez maior dos cães ao nosso modo de vida, podemos afirmar à sociedade humana mesmo, veio na mesma velocidade com que veio a integração do mundo à internet, ao meio virtual. Nossos melhores amigos foram para as fotos e vídeos que inundam canais e redes sociais, em lutas pelas causas humanas e animais que vão muito além dos direitos, penetram pelos ramais do psicológico, do emocional. A presença dos melhores amigos junto aos enfermos. Em visitas aos internados em hospitais e como isto influi na recuperação da pessoa. A presença dos cães junto às pessoas em situação de rua, sem teto. A multiplicação de andarilhos, mendigos, pessoas sem eira nem beira por nossas cidades, reforçou nosso olhar também a quantos animais sempre tivemos pelas ruas, igualmente sem eira nem beira. Tínhamos uma visão separada dos fatos. O “morador de rua” e os “animais de rua”. Agora vemos ambos juntos. Na fartura ou na miséria, eles, os cães, estão ao lado do ser humano.
Em janeiro de 2020, pouco antes da pandemia chegar ao Brasil, estive em Ponta Grossa, cidade paranaense não muito distante do porte de nossa Jundiaí. Em muitos aspectos ela é semelhante a Jundiaí, até mesmo no sistema integrado de transporte, com terminais nos bairros; com a vantagem que lá os terminais foram construídos em locais bem planejados e os ônibus possuem cores, comunicação visual técnica conforme o tipo de linha para melhor orientação ao usuário, ao contrário do que foi feito cá em terras de Petronilha, onde a orientação técnica foi substituída por capricho e marketing político. Pois bem, além do sistema de transporte, me chamou atenção na cidade paranaense a quantidade de cães de rua. Estão pela cidade toda, inclusive nos terminais de ônibus, onde constroem seus nichos (como se vê na foto que ilustra este artigo). Pelas ruas, moradores e entidades também providenciam abrigos para eles. É comum encontrar casinhas de cães em pontos estratégicos; ruas, praças, avenidas… Não muito longe de Jundiaí, em Francisco Morato, presenciamos situação semelhante. Na estação ferroviária e terminal urbano da cidade, cães de rua se ajeitavam aqui e acolá, inclusive debaixo dos assentos dos usuários dos terminais. Grupos se mobilizaram e improvisaram caixas para abrigar os animais, em alguns casos até casinhas mesmo. Mas com a reforma da estação foram retiradas do dia para a noite, o que gerou revolta da população, que providenciou novamente os abrigos para os cães e as autoridades acabaram aderindo à causa animal, buscando uma forma de dar melhores condições de abrigo aos melhores amigos.
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Diante de todo este cenário, constatamos que ao mesmo tempo em que brotou uma consciência maior pela vida humana e pela vida do “melhor amigo do homem”, a sociedade não conseguiu diminuir o problema dos extremos: riqueza e miséria. Os cães acompanharam lado a lado a evolução da consciência humana e também a estagnação referente à diminuição dos extremos sociais. A tecnologia a serviço da educação, da consciência humana/ambiental não freou e muito menos reverteu o disparate social. Vieram direitos, causas conquistadas. Caridade. Mas também se acentuou a distância entre grupos privilegiados e às margens da sociedade. O luxo e o supérfluo da alta sociedade contemplaram também os “pets”. Não só para a saúde e bem-estar dos “doguinhos”, com banhos especiais, terapias com luzes e som, como também com uma infinidade de mimos, brinquedos, roupinhas, apetrechos de todo tipo. Temos famílias que mimaram filhos e igualmente seus “pets”. Do outro lado, cães reviram as latas de lixo nas cidades e buscam abrigo. Sobrevivem da caridade de alguns. Como milhares ou milhões de pessoas mundo afora.
Entramos no século XXI com avanços e persistentes estagnações. E os cães continuam fazendo jus ao “melhor amigo”, trazendo reflexões contínuas sobre o companheirismo humanos com humanos e animais com humanos. Acompanham passo a passo nosso caminhar entre erros e acertos. Mais que nunca, eles, os cães, estão entre nós. Na alegria e na tristeza. E nas intermináveis polêmicas que abarrotam o mundo virtual, pois vieram para ficar também nos holofotes.

GEORGE ANDRÉ SAVY
Técnico em Administração e Meio Ambiente, escritor, articulista e palestrante. Desenvolve atividades literárias e exposições sobre transporte coletivo, área que pesquisa desde o final da década de 70.
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